Porque Sim

Quarta-feira, 27 de Maio de 2009

Depois de quase um mês sem escrever nada, oU porque tenho muito que fazer, ou porque ando em cursos e chego muito tarde a casa e já não tenho vontade de fazer mais nada, hoje decidi escrever um poema que considero fantástico que se intitula Não, Não vou por Aí, retirado do livro Cântico Negro de José Régio, no fundo também me sinto um bocado como o autor que provavelmente no dia em que o escreveu também não estaria nos seus melhores dias.

Cântico Negro - NÃO, NÃO VOU POR AÍ

"Vem por aqui"- dizem-me alguns com os olhos doces,

estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom

que eu os ouvisse quando me dizem: " vem por aqui"!

Eu olho-os com olhos lassos, (há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

e cruzo os braços, e nunca vou por ali...

 

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem vontade

Com que rasguei o ventre a minha mãe.

NÃO, NÃO VOU POR AÍ! SÓ VOU POR ONDE ME LEVAM OS MEUS PRÓPRIOS PASSOS...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde, porque me repetis: "vem por aqui"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos, como farrapos,

arrastar os pés sangrentos, a ir por aí...

 

Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés

na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

 

Como, pois, sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, o sangue velho dos avós, e vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem, amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 

Ide, tendes estradas, tendes jardins, tendes canteiros,tendes pátrias, tendes tectos.

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

 

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca princípio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um atomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei por onde vou,

-SEI QUE NÃO VOU POR AÍ!

Estava a escrever o poema e a lembrar-me daquele que foi também um grande poeta, José Carlos Ary dos Santos, quando o ouvi declamar este poema da forma que só ele sabia fazê-lo, já á alguns anos na RTP.

Obrigado a vocês que continuam a ter paciência  para me irem aturando.

Até um destes dias.

sinto-me: poeta
publicado por alzirota às 16:58

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