Depois de uma semana sem dar noticias pois a vontade de escrever não era nenhuma, aqui estou decidida a escrever, e o tema que escolhi para hoje foi sobre o meu filho.
O António foi um filho desejado, embora talvez tardiamente.
Óbvio que quando se tem uma menina espera-se que à segunda, venha o rapaz, fomos uns sortudos, pois assim aconteceu.
No entanto enquanto que a Ana os problemas que tinhamos foi a sua deficiencia, o António nascia sem problemas, mas as suas traquinices e alguns azares ou sorte, conforme analisarmos as situações, fizeram-nos durante algum tempo andar com o credo na boca.
Ainda bem pequeno, eu uma prima e a minha mãe fomos até à praia de S.Martinho do Porto para tomarmos um banho e descontrairmos.
Como sempre, e como devem saber esta praia é uma baia e as ondas nem vê-las, contudo naquele dia, não sei o que possa ter acontecido, enquanto eu e a minha prima tomavamos um banho, a minha mãe pegou no António ao colo e ficou à beira mar com ele na brincadeira, de repente, e sem que nada o fizesse prever, uma onda de cerca de dois metros, surgiu do nada arrastando-me a mim e á minha prima para o areal, e levou a minha mãe ao desequilibrio de tal maneira, que o mar levou o António. A minha mãe desesperada procurava-o por ali, eu fiquei estupefacta não me mexi não querendo acreditar que iria ficar sem o meu filho e a minha prima, qual galinha doida, corria para um lado e para o outro sem saber se devia de chamar o salva vidas se devia procurar o António se devia de acalmar a minha mãe. O povo apercebeu-se que algo se passava e já começavam a surgir de todos os lados, a minha mãe só dizia: temos de o encontrar e escavava a areia à sua procura, de repente um grito...está aqui.
Sem saber como, o meu filho tinha surgido no meio da espuma e ido parar aos braços da minha mãe.
Meu Deus, que susto.
Mas o António que foi feito com tanto amor e carinho, achou que uma vida sem acção, não era nada e vai daí uns anos depois, quando já andava, pensou em descobrir como se atravessava uma estrada.
Estávamos no café e o menino, arrancou por ali fora direito à rua, levantei-me rápido e consegui alcançá-lo já à berma da estrada, agarrei-lhe a mão e ralhei, quando me apercebo, o António tinha dado um puxão de tal maneira forte na minha mão que não consegui segurá-lo, mal entrou na estrada um carro atropelou-o, voou não sei quantos metros caindo desamparado no chão. Gritava ele, gritavam as pessoas e eu uma vez mais, pensei: quem escapou do mar, também há-de escapar desta. Não nego, estava assustada, mas a minha fé era enorme e pensei, não o António daqui a pouco estará mais uma vez a correr e a saltar.
A verdade é que assim foi. Chegamos ao Hospital o António não tinha absolutamente nada, nem sequer um arranhão a única coisa que tinha era um grande, grande susto.
Mas julgam que os acontecimentos ficaram por aqui ? Não.
Um belo dia eu e o meu marido achamos que deviamos de usufruir das instalações que a Policia tem em Vieira de Leiria e passarmos uns dias de férias na praia. Se assi pensamos assim fizemos. Para lá fomos.
Desilusão das desilusões, o Verão em Vieira de Leiria é Inverno, o rapaz chorava que se fartava e nós estavamos fartos de não poder sair para lado nenhum pois não parava de chover.
De repente o sol decidiu aparecer assim como o calor, toca a ir aproveitar o dia. O António por ali andou no areal e chapinhou á entrada do mar.
Para quem não sabe o mar de Vieira de Leiria é um mar habitualmente bravo, naquele ano a única coisa que não estava bem era o tempo, pois curiosamente o mar sempre com ondas altas parecia um cordeirinho, por isso o António estava nas suas sete quintas.
Só que o bom tempo foi sol de pouca dura, podemos resumir que em oito dias de férias, tivemos seis dias de Inverno um de Primavera e um de Verão. Entretanto, o António estava com febre, presumimos que fosse algum dente, ou farto de estar fechado. Decidimos voltar para casa.
Mas a verdade é que as recordações de Vieira de Leiria não ficariam apenas pelo mau tempo e pelo ambiente que não gostamos na Colónia de Férias. A febre do António continuou a subir e tivemos de ir ao médico. Diagnóstico: papeira.
Um dos lados do pescoço cresceu uma enormidade, fartavamo-nos de rir com aquilo. No entanto, ao fim de oito dias, a febre pouco ou nada tinha descido e o alto mantinha-se, pelo que deduzimos que não seria decerto papeira.
O médico do António estava de serviço nas urgências do hospital e mandou levar o António para o consultar, a minha cunhada, esposa do meu irmão, é que foi com o António assim como a minha mãe, já que eu estava a trabalhar e o meu marido estava com um pé partido.
Assim que o médico viu o António e se informou de tudo mandou-o de imediato para a Estefânia, as coisas estavam a ficar criticas.
Sai de imediato para o trabalho e segui para Lisboa com a minha cunhada e sinceramente nem me recordo se o meu irmão também foi.
Foram momentos, estes sim, muito dificeis e complicados presumiu-se que o António teria um tumor, a minha mãe é que andou com ele por onde foi necessário para efectuar os exames. Fui ter com ela para a render, mas ela estava agarrada ao António desesperadamente, e por ali andamos até sabermos que felizmente, o pior dos diagnósticos não se confirmavam. Pelo menos em relação ao tumor.
O António teve de ficar internado, pois teria de fazer vários exames já que ainda não sabiam claramente o que tinha.
Durante oito dias a minha vida foi caminhar de Ota para Lisboa e vice-versa. Entretanto já sabiamos que o António tivera um fleimão, doença esta que surge de infecções que não são tratadas convenientemente, não me recordo de o António ter tido alguma infecção, mas a febre surgiu em Vieira de Leiria depois de o António ter andado a chafurdar naquela água, que ainda hoje continua poluidissima. Uma vez mais, o António tinha fintado a morte.
Pelo meio de tudo isto o António chegou a ficar internado algumas três vezes com pneumonia.
Que dizer de tudo isto? Que todas estas situações com o António, que tudo o que nós passamos com a Ana para que pudesse hoje andar praticamente sem que se note a deficiencia de que padece, fez de nós uns lutadores, e é decerto por isto, que quando confrontados com as dificuldades económicas que todos nós atravessamos, sinto que não será isto que me vai vergar, depois de tanto que já passamos.