Á medida que ia ficando mais velha, deixou de ter interesse os jogos que eu inventava com as caricas, a cana, (que era o meu cavalo) o jogo da barra, e até o jogo das escondidas passaram aos poucos à história.
Gostava cada vez mais de jogar futebol, de ler , cada vez mais e também de me isolar, era capaz de estar horas sózinha no meu quarto, a escrever, a ler ou a pensar.
Creio que estes momentos de solidão fizeram com que fosse capaz de abordar muitas questões e tentar ter resposta para tudo o que se passava à minha volta.
As minhas amigas, começavam a segredar e dar cotoveladas numas e noutras quando viam algum rapaz bonitão.
Suspiravam na altura, pelo Art Sullivan.
Eu achava que outros interesses se levantavam. A Igreja, o escutismo, o querer ajudar sempre que podia.
Entretanto, começou a surgir o cinema itinerante, todas as sextas ou sábados à noite, havia um filme na colectividade, que na altura era o Ota- Clube.
Juntavamo-nos todas e íamos ver sobretudo os filmes de Gianni Morandi, ou o Bud Spencer.
Ainda recordo, que os filmes de Gianni Morandi eram muito românticos e de fazer chorar até as pedras da calçada. Uma vez choramos tanto, que a gabardina de uma de nós não deu para aguentar as lágrimas de todas. Que molhada ficou.
Sempre gostei de ver filmes de aventura, por cá aparecia muito os de Bud Spencer que era o que enchia sempre a sala. Afinal tinha de se compensar a deslocação do homem até à Ota, e ainda pagar o filme.
Depois da meia-noite, e já depois do 25 de Abril, surgiam os filmes pornográficos. Que nós não podiamos assistir porque não tinhamos idade e porque seria um escândalo se nos atrevessemos a entrar.
Nesta altura começaram a surgir novas amizades, e a curiosidade de ir descobrindo o que estva para lá do sobrenatural. Um dia, juntamo-nos 15 pessoas entre rapazes e raparigas, muitos de nós fazíamos parte do coro ou éramos escuteiros, e como uma de nós tinha o "dom" de falar com os mortos, decidimos fazer uma sessão espírita.
Sentamo-nos à volta de uma mesa, colocamos letras( o abecedário) em papel e números, um pires de cristal( se bem me lembro) seria o que andaria num virote e responderia às perguntas da nossa "médium". Devíamos ter um poder tal, que o grupo de 15 à volta da mesa, foi baixando para 6 onde eu estava incluida. A coisa continuava a não funcionar, pelo que saí também ficando apenas 5. Cheguei à conclusão que eu só dei azar. Assim que saí o pires decidiu começar a girar e a responder à nossa "médium". Nunca pensamos assistir a algo do género e durante alguns anos, aquilo não nos saiu da cabeça, foi uma experiência inesquecivel. Para nós que assistiamos e para os outros que estavam à volta da mesa.
Presumo que se nós sentiamos uma energia incrivel cá fora... como será que os outros viveram a experiência? Ainda não à muito tempo, um dos que participou na experiência, não queria falar do que tinha sentido na altura, para ele... alguém do além tinha estado entre nós naquela noite. Quanto a mim, que fui para aquela sessão céptica sobre o que se poderia passar, cheguei à conclusão que mais do que alguém do outro mundo o que sucedeu, foi uma grande concentração das mentes com mais poder para o fazer, e libertaram nessa noite muita energia, de tal forma que o pires se elevou pelos ares.
Li mais tarde que o nosso cérebro é capaz das coisas mais incriveis, o que sucede é que nem todos tem o "dom" para o desenvolver.